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Foto do escritorVicente Loureiro

A quem pertence nossas ruas?


A resposta, na ponta da língua, é dada pelos autores do livro Movimento: Como Reconquistar Nossas Ruas e Transformar Nossas Vidas, dos holandeses Talhia Verkade, jornalista, e Marco te Brommelstroet, urbanista e professor de ciclismo. Para eles, chega a ser incontestável o fato de os automóveis terem se apropriado das ruas e conseguido estabelecer como propósito delas promover a velocidade para melhorar o fluxo do tráfego de veículos.


Comprometendo assim o sentido original das ruas, o de serem a instância primária e coletiva de socialização nas cidades. Afetando com isso o nível de urbanidade nelas, fazendo com que os deslocamentos sejam cada vez mais tensos, demorados e inseguros. Levando os autores a perguntarem também como queremos usar nossas ruas? E quem deve decidir sobre isso?


O livro vai fundo nos questionamentos sobre a tomada das ruas pelos carros, colocando em xeque sua promessa de mobilidade libertária sem limites e sua elevação a símbolo de status sem precedentes. Demonstra que, ao longo de um século de vida, o carro acabou por transformar-se em um gigantesco problema, com impacto na saúde, na economia e no funcionamento das cidades, inclusive no futuro do planeta.


Chegam a taxá-lo como um modal de transporte antiurbano, aproximando-os da afirmação categórica de Jaime Lerner quando anunciava o carro como “o cigarro do futuro”. Um dia, espera-se que não muito distante, as pessoas o tratarão como estorvo e não mais como solução para seus deslocamentos diários. Afirmam ainda com convicção que “esse status quo não é um dado, nem tampouco uma situação neutra em termos de valor; é uma escolha” que pode muito bem ser mudada.


Com o aumento dos congestionamentos, do tempo consumido nas viagens e, principalmente, dos acidentes de trânsito, também soa oportuna outra pergunta dos autores: por que aceitamos que o espaço público, formado pelas ruas, calçadas, ciclovias, etc., seja tão inseguro e que precisamos de sinais de trânsito e códigos rodoviários para torná-lo seguro? Não haveriam outros modelos econômicos, políticos e urbanos para o desenvolvimento das cidades?


Mesmo parecendo chover no molhado, quando afirmam que o planejamento urbano, a engenharia de tráfego, entre outras disciplinas urbanísticas, não são apenas assuntos técnicos, mas sim questões sociais, políticas e morais, quase sempre dizendo respeito ou atendendo a quem tem mais direitos. Os autores nos ajudam a confrontar crenças e nutrir esperanças de que o século do automóvel pode estar chegando ao fim.



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