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Foto do escritorVicente Loureiro

BAIRRO MIX COM CARBONO ZERO


Foto - Google Maps

Imagine viver num lugar com diversas atividades e funções onde tudo o que você precisa no seu dia a dia esteja ao alcance dos pés, incluindo o transporte para aquilo que não é possível estar ainda tão perto. Que também consiga abrigar, de modo sustentável e permanente, uma larga diversidade social. Onde moradores e usuários de diferentes idades, renda e opções religiosas, sexuais ou políticas, possam conviver em harmonia entre si e com a natureza inventada para estimular a biodiversidade presente na região. E mais, que se propõe a ser um local zero de emissões de carbono.


Esse lugar existe e tem a pretensão de cumprir tais propósitos. Trata-se da L’îlot Fertile (a Ilha Fértil) recém-inaugurada no 19° arrodissement em Paris. Numa área de localização privilegiada e que estava sem uso há décadas e, por ser tão bem localizada e servida por linhas de transportes, foi eleita para participar do concurso público de projetos urbanos “Reinventar Paris”, promovido pela Prefeitura da capital francesa, tendo como objetivo gerar uma nova contribuição da cidade para o progresso do planejamento urbano, com a finalidade de reequilibrar a vida urbana, aproximando-a da natureza.


Em 2016, foi anunciado o projeto vencedor para a chamada Ilha Fértil, concebido pela agência de planejamento urbano TVK, com a colaboração do estúdio de paisagismo OLM e que propunha a ser o primeiro bairro com emissão zero de carbono, trazendo ainda algumas inovações urbanísticas como a de ser, ao mesmo tempo, um bairro MIX, tanto do ponto de vista social, abrigando moradores das mais variadas condições sociais, quanto do urbanístico, permitindo a convivência de usos e atividades diversas no mesmo lugar.


Assim nasceu L’ilôt Fertile: um conjunto de quatro grandes edifícios plantados nos limites do terreno e ao redor de um jardim central voltado para a mobilidade suave, onde não é permitido a presença de automóveis, somente de pedestres e usuários de bicicleta e assemelhados. A conexão com o restante da cidade se dará pelas linhas do RER, do metrô e do elétrico que circundam a área com estações praticamente contíguas a esse novo bairro. Um espaço, portanto, concebido para viver e instalar-se em família ou sozinho, dotado de comércio vicinal, equipamentos esportivos, centro cultural, escritórios, uma incubadora de startups e uma central logística de última milha.

Requisitos ambientais foram incorporados ao projeto de modo a garantir a redução das emissões de carbono e a sustentabilidade de todo o empreendimento. Os edifícios foram projetados para diminuir a necessidade do uso de energia, assim como produzir parte dela no local. Telhados bio solares com vegetação e terraços também vegetados pretendem fornecer habitat a fauna e flora endêmicas na região da Île-de-France através de hotéis para insetos, morcegos, lagartos e muitos ninhos de pássaros. Não param aí as garantias de sustentabilidade do já chamado primeiro distrito de carbono zero de Paris, os moradores serão obrigados a firmar contratos de eletricidade verde com os empreendedores e eles, por seu turno, se propõem, por 10 anos, a manter programa de atividades de emissão zero carbono com controle e monitoramento ecológico em todo bairro.


Há dúvidas sobre a continuidade e o alcance dessas medidas de promoção da sustentabilidade, pois elas exigem mudanças comportamentais significativas de futuros moradores e usuários do novo ambiente construído. Assim como ações pós ocupação dos próprios investidores. Resta, entretanto, uma certeza: há, mundo afora, importantes tentativas de nos fazer mudar o modo de viver nas cidades. Tomara que o futuro lhes seja venturoso.



Vicente Loureiro, arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor

dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade



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