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Foto do escritorVicente Loureiro

BALDEAR É PRECISO


Há uma espécie de mito nos serviços de transportes por aqui: o de evitar baldeações, como se elas causassem viagens mais incômodas e demoradas. Virou uma crendice, quase um dogma indiscutível. É inacreditável que numa metrópole como a do Rio de Janeiro, onde o tempo médio de deslocamento das pessoas na região é o maior do país, se possa abrir mão desse recurso capaz de promover maior integração entre os modos de transporte existentes.


Tratado como verdade absoluta, esse conceito consolidou-se. Em nome dele talvez tenha se deixado de lado a tomada de decisões objetivas de modo a fazer com que integrações físicas, operacionais e tarifárias dos transportes públicos pudessem de fato ser praticadas na quantidade e qualidades desejadas. É provável, inclusive, que tal “mito” tenha servido também de biombo para esconder os efeitos da concorrência corrosiva e predatória praticada entre os serviços concedidos e levado ainda agentes públicos, dos três níveis de governo, a não conseguirem constituir um ambiente administrativo onde o verbo integrar pudesse ser conjugado acima dos interesses menores, muitas das vezes nada republicanos.


Existem experiências no mundo onde a baldeação foi considerada estratégica na obtenção de melhorias sensíveis na mobilidade urbana. Casos inclusive de onde partiu-se dela para se conquistar mais complementariedade operacional e sustentabilidade financeira entre os diversos modos de transporte utilizados pela população. O mais notável deles talvez seja o caso dos “Intercambiadores” de Madrid: um conjunto de estações de baldeação construídas nas cercanias da capital espanhola com o objetivo de reduzir a circulação de veículos em sua área central, excetuando-se os trens e o metrô.


Uma experiência relativamente recente, não tem nem 10 anos de vida, porém com resultados estimulantes, graças também há outras medidas adotadas e que permitiram reduzir significativamente o tempo médio gasto nos deslocamentos praticados diariamente na área metropolitana de Madrid. Na prática, para se chegar ou sair dela por via rodoviária, somente através dos “Intercambiadores”. Neles estão localizados os pontos finais das linhas de ônibus urbanas, metropolitanas e até intermunicipais. O metrô encarrega-se de conectá-los a toda área central da cidade. Para desestimular o uso do transporte individual, vagas de automóveis também fazem parte da oferta de serviços dessas estações de baldeação.

Em síntese, os “Intercambiadores” pretendem fazer com que os deslocamentos até o centro de Madri sejam feitos no menor tempo, com custo reduzido e integrando todas as formas de deslocamento presentes na cidade, pois a abrangência e alcance de cada um deles atende a determinada área da região metropolitana e até municípios do interior. Desse modo, o desejo de viagem ao centro de Madrid e de lá para os mais diversos destinos tem lugar marcado para acontecer. Dentro da área central só se circula de metrô, a pé, de bicicleta, de táxi ou aplicativos. Carros são ainda tolerados, mas é cada vez mais constrangedor e caro usá-los.



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