Atualizado: outubro 7, 2022
A oitava edição do Connected Smart Cities, uma plataforma criada com propósito de colaborar no processo de tornar as cidades brasileiras mais inteligentes e conectadas, apresentou o resultado do levantamento realizado em 680 municípios, com mais de 50 mil habitantes, dividido em quatro rankings: um geral, um outro por eixos temáticos, outro ainda por regiões e, por fim, um pelo tamanho da população. Um esforço desenvolvido em conjunto pelas empresas Urban System e Necta.
Curitiba, a nossa referência mundial em planejamento urbano, ficou em primeiro lugar na classificação geral. Tendo resultados expressivos em diversos eixos temáticos do estudo, principalmente naqueles que registraram crescimento nas atividades econômicas, alavancados pelas novas tecnologias e inovações e nas transformações digitais estimuladas pela prefeitura. Na realização dos levantamentos e seleção das cidades mais proeminentes, foram definidos 11 eixos temáticos e selecionados 75 indicadores com objetivo de destacar aquelas com maior potencial de desenvolvimento e melhor qualidade dos serviços entregues à população.
Entre as 100 cidades com mais de 50 mil habitantes, classificadas como as mais inteligentes e conectadas do país, quase 90% delas estão localizadas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e apenas pouco mais de 10% nas regiões Norte e Nordeste. Considerando que perto de três quartos do PIB brasileiro é gerado nas cidades, principalmente nas de porte médio e grande, fica gravado no mapa o modelo de desenvolvimento desequilibrado praticado entre nós. Há uma espécie de linha imaginária a dividir o país em dois: um conectado e inteligente e o outro...
Os eixos escolhidos para a realização dos estudos comparativos tratam de temas diretamente vinculados ao modo de se viver nas cidades, como mobilidade, urbanismo, meio ambiente, saúde, educação, segurança, economia, tecnologia e inovação, empreendedorismo e governança. Para poder classificá-los foram compilados dados oficiais existentes e outros produzidos por entidades diversas, cujo objetivo também é avaliar o desempenho dos municípios sobre um ou mais dos temas escolhidos. Seja, por exemplo, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o Índice de Desenvolvimento Municipal da Firjan ou a Escala Brasil Transparente, entre outros.
Os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina juntos abrigam perto de 60% das 100 cidades melhor ranqueadas. Do Estado do Rio, frequentam a lista apenas quatro cidades: Niterói, a melhor classificada,
seguida pela capital, Petrópolis e Saquarema. Na região sudeste, o Espírito Santo tem cinco municípios entre os melhores e Minas Gerais também aparece com apenas quatro, apesar de ser o estado brasileiro com maior número de governos locais instalados. As vantagens comparativas apresentadas pelas cidades melhor posicionadas no ranking apontam para um desenvolvimento regionalmente concentrado em parte do Sudeste e do Sul do país. Ao que parece, só políticas públicas corretivas conseguirão alterar essa tendência, mais ou menos consagrada ao longo de quase uma década, segundo os levantamentos da Conect Smart City.
Passando os olhos sobre os eixos temáticos e os indicadores, impressionam os avanços promovidos pela transformação digital catapultados talvez pela pandemia. Com destaque para projetos pioneiros como os da prefeitura sem papel; o do cadastro imobiliário georreferenciado disponibilizado à população; o da redução das perdas de água graças a novas tecnologias de controle; o de disseminação de aplicativos para marcação de exames, consultas e até mesmo monitoramento de portadores de doenças crônicas; os de instalação de câmeras de segurança e gestão do tráfego ou ainda o de sensores usados para localização de buracos nas vias ou de áreas alagáveis, entre outras inovações. Até mesmo aquelas que já permitem a emissão eletrônica de multas para diversas infrações. Como ainda somos um país do jeitinho e onde cumprir a lei é quase um luxo, é provável que cheguemos a um impasse entre a tecnologia das evidências versus a das consequências. Essas transformações em curso nas cidades estão a atestar que o futuro nem só a Deus pertence.
*Vicente Loureiro, arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade
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