Muito se tem debatido sobre o futuro dos shopping centers. Alguns até já anunciam o seu fim, principalmente por conta de que um terço deles estão às moscas ou fechados nos Estados Unidos da América, onde nasceram e de lá ganharam o mundo. Há controvérsias e pontos de vistas divergentes. No entanto, uma visão de consenso parece se consolidar: se quiserem sobreviver, tais centros comerciais terão que mudar seu jeito de ser e se comportar nas cidades que os abrigam.
O conceito de espaço comercial e lazer apartado da cidade, onde quase sempre se chega exclusivamente de automóvel, caminha para obsolescência e ocaso, seja por questões ambientais, econômicas e sociais pondo em cheque sua sustentabilidade ou então por razões comportamentais da sociedade, buscando, cada vez mais, resolver suas necessidades cotidianas em locais de fácil acesso dotados de transporte público e, preferencialmente, com oferta diversificada de serviços. O futuro pode estar em exemplos exitosos do passado ou pelo menos neles buscar inspiração.
Ao contrário dos shoppings centers isolados, edifícios comerciais do tipo Rockefeller Center em Nova York, Conjunto Nacional em São Paulo ou La Illa em Barcelona, entre outros de matriz semelhante, têm apresentado mais vitalidade e perspectivas de seguir atraindo pessoas em futuro próximo. A diferença fundamental entre eles está na relação estabelecida com a cidade. Enquanto os shoppings, em sua maioria, são complexos arquitetônicos fechados em si mesmo e de certo modo isolados, os conjuntos comerciais localizados em áreas centrais das cidades, caracterizam-se por estarem conectados de forma intensa com o entorno, representado pelo fácil acesso, pelas fachadas ativas e, ainda, pela integração direta com os meios de transporte de maior capacidade.
Aos shoppings é preciso tomar a decisão de ir visitá-los, já aos complexos comerciais e de serviços, localizados em áreas centrais, é possível até passar por eles sem se dar conta e usufruir de seus atrativos naturalmente. O fato de reunir usos e atividades das mais diversificadas no mesmo sítio e ao seu redor, torna tais conjuntos mais atraentes e dinâmicos. Quando conseguem então reunir no mesmo lugar moradias, lojas comerciais, escritórios, atividades recreativas e equipamentos públicos sociais e culturais produzem vantagens locacionais e ações sinérgicas que as cidades não podem dispensar. Eles têm sido mais resilientes e se comportado melhor diante de crises e mudanças de hábitos da sociedade.
Há outras diferenças entre shoppings e complexos comerciais para além dos usos diversificados e das condições de mobilidade nas quais estão inseridos. Há que se observar a capacidade de lidar com gentes distintas, com perfis de renda e desejos de consumo variados presentes em usuários e simples transeuntes. É indispensável que se considere a cidade e seus ambientes de uso mais intenso enquanto espaços de trocas, inovações, surpresas e até constrangimentos. Empreendimentos apartados como se fossem guetos, não combinam com a missão das cidades. Mais do que uma contradição, acentuam as diferenças, tornando-as socialmente mais pobres e excludentes. O futuro dos shoppings, além de se espelhar nos exemplos exitosos do passado, terá que fazer da tolerância à diversidade um valor inegociável. Quem sabe um propósito?
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