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Foto do escritorVicente Loureiro

MOVIMENTO CENTRÍPEDO



A série de reportagens, intitulada “Um Olhar para o Centro”, exibida no Jornal Hoje da TV Globo durante a primeira semana do ano, apresenta um conjunto de iniciativas tomadas por cinco grandes capitais brasileiras: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e São Paulo. O objetivo é recuperar a vitalidade econômica e urbanística de suas áreas centrais. Algumas dessas iniciativas foram iniciadas há três ou quatro décadas, demonstrando que o movimento em direção ao centro exige mais do que vontade política traduzida em projetos de leis ou ações isoladas. É preciso mais.

Não será tarefa simples, nem de resultados imediatos, a implantação dos projetos de revitalização das áreas centrais em curso nas principais cidades brasileiras. Reverter as sequelas deixadas por um modelo de desenvolvimento urbano baseado em forças de movimento centrífugo, contrário ao desejado, promotor de expansão territorial dispersa e orientada para regiões cada vez mais distantes dos centros, exigirá muita persistência, criatividade e foco no maior dos desafios: o de mudar a forma como as pessoas enxergam o papel e as possibilidades dos centros urbanos principais.


Movimento centrípeto

Os problemas são comuns a todas elas, apesar de existir uma ou outra distinção. A violência urbana, a população em situação de rua, moradores e comerciantes batendo em retirada fazem a imagem das áreas centrais ficarem tão parecidas quanto tristes. Reside esperança no patrimônio construído, recheado de exemplares de grande significado simbólico para as cidades, e na memória afetiva fruto das manifestações culturais e políticas resilientes, na maioria dos casos intransferíveis. O centro das cidades é ao mesmo tempo berço e palco preferencial de todas elas.


O portfólio de medidas também possui grande semelhança, variando na ênfase dada a uma ou outra ação considerada alavanca para a retomada da centralidade perdida. Ora a tecnologia impulsionando a revitalização, como no caso do Recife, ora um conjunto de investimentos promovidos pela prefeitura de Belo Horizonte. Ou então os esforços para fazer reviver o centro do Rio, através de medidas urbanísticas e de incentivos fiscais, já com resultados concretos, a ponto de, em 2023, a área central figurar como a segunda com maior número de lançamentos imobiliários na cidade.


Em São Paulo, a luta para estancar o esvaziamento do centro esteve presente nos governos de 11 prefeitos nos últimos 37 anos. E os resultados obtidos ainda deixam a desejar, tanto no enfrentamento da violência urbana quanto nos impactos negativos gerados pela chamada Cracolândia ou pelos estimados 53.000 moradores em situação de rua. O sucesso da capital paulista no equacionamento desses problemas interessa a todas as cidades médias e grandes, onde o centro, mais do que decadente, tornou-se refratário a novos usos e investimentos. Inovações institucionais, incluindo novo modelo de governança para a área central da cidade mais dinâmica do Brasil, vêm sendo propostas; tomara que São Paulo consiga virar a chave.


Uma constatação parece ser comum a todos os atores públicos e privados envolvidos nos projetos de revitalização das áreas centrais das cidades apresentadas na série de reportagens da TV Globo: “os centros nunca mais serão como eram”. Os tempos são outros, as metrópoles onde estão inseridos ganharam centros sub-regionais pulsantes. As transformações no mundo dos negócios e do trabalho também sinalizam novos papéis para essas zonas onde tudo começou. Povoá-las com gente e serviços variados virou a bola da vez. Oxalá tais estratégias estejam certas. Xô decadência.



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