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MUDANÇA DE HÁBITO


A expansão territorial e da área construída das cidades, bem superior ao crescimento demográfico da maioria delas, associadas ao desenvolvimento tecnológico, aos impactos da pandemia, entre outras causas, tem provocado significativas alterações no modo das pessoas se locomoverem nas áreas urbanas. Tais mudanças foram reveladas por pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Transporte (CNT) em 319 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, segundo o censo do IBGE de 2022.


Os resultados obtidos agora, quando comparados aos de um levantamento similar promovido também pela CNT em 2017, revelam que a mobilidade nas cidades passou a ser um dos três maiores problemas urbanos do país, ficando atrás apenas da saúde e da segurança pública. A relevância do tema dobrou de tamanho entre as duas pesquisas, seja por conta do aumento dos congestionamentos, do tempo consumido nas viagens, ou das elevadas tarifas praticadas.


A revelação mais importante é que o transporte coletivo público deixou de ser responsável por 50% dos deslocamentos urbanos, figurando agora na casa dos 30%. Em contrapartida, o transporte individual, realizado por carros e motos particulares, além dos aplicativos de mobilidade, saltou de 50% para 70%. Um dos impactos mais sentidos por essa mudança é a redução da participação dos ônibus, o modo de transporte mais utilizado no país, que deixou de ser responsável por 45% das viagens, passando para cerca de 30%, uma perda de um terço da demanda existente.


Apesar do alto custo e da ineficiência comprovada, o uso do automóvel teve um incremento de 33% no período. Já as motos dobraram sua participação, e os aplicativos multiplicaram por 10 o número de viagens ofertadas. Enquanto isso, as políticas públicas, promovidas na maioria das cidades, trataram de estimular o transporte individual em detrimento do coletivo. Foram poucas, mas louváveis, as iniciativas locais de implantação de faixas exclusivas, corredores de ônibus, entre outras infraestruturas para melhoria da mobilidade.


Apesar de meritórias exceções, também tem sido baixíssima a utilização de ferramentas tecnológicas para apoio, consulta, planejamento, avaliação e fiscalização das viagens das pessoas nas cidades em busca de trabalho, tratamento de saúde, educação e lazer. Da mesma forma, entre 2017 e 2024, não deram frutos efetivos as discussões sobre novas formas de financiamento ou custeio dos serviços de transporte coletivo urbano. Seja através da vinculação de impostos, cobrança de pedágio urbano, ou taxação dos aplicativos, muito pouco se avançou. Os subsídios continuam em alta e, segundo a pesquisa, caminham rumo à insustentabilidade.


Também fica patente, nos dados revelados pelo levantamento, a dificuldade dos governos em promoverem a integração efetiva dos transportes públicos, seja ela física, tarifária, operacional ou de informações. Trabalha-se pouco em rede e persistem os entraves para a redução do tempo de viagem, através de medidas de gestão integrada do tráfego nas cidades. Em suma, faltaram investimentos em transporte coletivo por parte dos três níveis de governo. Infelizmente.


Continua funcionando como uma espécie de ladainha sem milagres a proverbial necessidade de se conjugar o planejamento e a gestão dos serviços de mobilidade com as políticas de ordenamento do território, uso e ocupação do solo, e produção de moradias de interesse social. A expectativa é de que a centralidade conquistada pelos transportes, revelada nesta e em outras pesquisas, influencie os candidatos a prefeito e que o tema se torne, de fato, prioridade nos futuros governos.


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