Serão 10 ou 12 metros quadrados, como nos micro apartamentos construídos em São Paulo, Tóquio ou Nova York? Ou caberão em 18 metros quadrados das micro casas plantados em cidades dos Estados Unidos, Canadá Austrália ou Reino Unido? Ou então, na pior das hipóteses, nas chamadas Ghoshiwan de no máximo 5 metros quadrados, muito comuns em Seul, mas presentes em toda a Ásia. Difícil encontrar a resposta certa, para essa tendência de produzir moradias miúdas e que virou febre no mercado imobiliário mundial.
Muitos atribuem a grande crise das hipotecas de 2008, a principal causa desse curioso fenômeno surgido nos EUA, mas já de alcance global. Como sendo uma possível alternativa ao crescente déficit habitacional, através da oferta de micro moradias a preços acessíveis, destinadas sobretudo a trabalhadores de baixa renda, a sem tetos, a jovens estudantes ou em início de carreira e a idosos solitários.
A questão é polêmica e envolve aspectos diversos: dos arquitetônicos e urbanísticos aos sanitários e de saúde pública, como também dos econômicos e financeiros aos de sustentabilidade ambiental. Os que defendem a tendência argumentam: a redução do tamanho das moradias não só as tornam mais baratas, como reduz seus impactos no meio ambiente. Além de promover atitudes de desapego, próprias de um minimalismo, em contraponto a ostentação e o desperdício do capitalismo selvagem.
Já os que se opõe a essa propensão, acusam a alta rentabilidade aferida na comercialização ou aluguel das tais micro moradias, como sendo resultante de trancar pessoas em ambientes equivalentes ao nossos quartos de empregada, potenciadores de estress, claustrofobia e até depressão. Além de se mostrar estratégia ineficaz diante de um problema urbano que vem agravando-se, e tende a produzir mais excluídos e moradores em situação de rua, mantidos os níveis de concentração de renda e oportunidades praticados na economia atual, incluindo até os países desenvolvidos. O que na prática, tornou a casa própria um sonho cada vez mais distante.
Há também dificuldades adicionais a consagração desse modo novo de morar, como as restrições urbanísticas e construtivas vigentes na maioria das cidades mundo afora. Nos EUA por exemplo, muitas dessas micro casas são construídas sobre rodas, com intuito de burlar o tamanho mínimo exigido para residências. Já no Reino Unido é obrigatório as novas moradias terem pelo menos dois cômodos destinados exclusivamente a dormitórios fora os outros. E em muitos países, várias prefeituras proíbem ainda moradias muito pequenas. O tamanho mínimo do morar é debate longe de ser concluído.
Por outro lado a crise habitacional é grave e para alguns sem precedentes e com perspectivas sombrias. Algumas cidades já declararam estado de emergência por conta dela. Inclusive estabelecendo incentivos para que proprietários abriguem sem tetos no quintal de suas casas, pondo em risco a valorização de seus Imóveis para ajudá-las a enfrentar o problema. Outros acreditam que a relação complicada dos “millennials” com a casa própria, os transforme de fato na geração do aluguel e colabore para reduzir a pressão da falta de moradia sobre o destino das cidades. Há portanto esperança do morar não precisar virar clausura. Mas não tem sido suficiente.
Vicente Loureiro, arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa,
autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade
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