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Foto do escritorVicente Loureiro

VER DE NOVO

Atualizado: 20 de jun. de 2023

O nome é sugestivo pois guarda duplo sentido: o de ver novamente a Serra de Madureira, como é conhecida aqui em Nova Iguaçu a vertente norte do maciço Gericinó/Mendanha, florestada e o de ter de fato um verde novo exuberante e viçoso, decorrente de árvores nativas da Mata Atlântica e não do capim colonial dominante naquele pedaço de encosta. Essa mudança foi resultado da iniciativa ousada de moradores do entorno, preocupados com os incêndios comuns nos meses de estiagem e com a ocupação desordenada que já se a avizinhava.

Liderados pelo engenheiro Miro Alarcão e pela professora Maria José Medeiros, já falecida, conseguiram juntar alguns recursos, equivalentes hoje a uns 60 mil reais, e partiram para ação. Havia acontecido, um pouco antes, uma tentativa de replantio naquela vertente da Serra por hidrosemeadura, através do despejo por avião de sementes de árvores cobertas por película gelatinosa, cujos resultados foram pífios, pois não mereceram o trabalho indispensável de acompanhamento de campo. Uma das primeiras tarefas do projeto dos voluntários foi dar suporte às mudas que haviam brotado.


Mas só isso não bastava. Com os recursos captados com vizinhos e simpatizantes da causa, o grupo contratou 5 trabalhadores e comprou as ferramentas para realização do plantio de fato. Conseguiram ainda o apoio da Prefeitura no fornecimento das mudas e, durante seis meses, trabalharam interruptamente sob a orientação do Miro. O resultado extraordinário pode ser constatado hoje, 25 anos depois da façanha, em ver de novo o morro coberto de vegetação nativa, demonstrando quanto o meio ambiente e a cidade podem ganhar se a ideia puder ser replicada em toda encosta da serra. Possível é e está provado.


Não faltam desafios: criadores de gado, voçorocas resultantes das águas de chuvas correndo encosta abaixo no morro pelado, a praga destrutiva e contagiosa do capim colonial, proprietários que rejeitam o reflorestamento na esperança da cidade vir a se desenvolver morro acima, entre outros, são barreiras às iniciativas de voluntariado tão exitosas quanto a demonstrada aqui. A presença mais ativa do poder público pode ajudar a driblar tais impedimentos, desde que não deixe de levar em conta a força transformadora da comunidade engajada.

Quem sabe um bem montado projeto de suporte a iniciativas de voluntários e, até mesmo, do poder público, equivalente, por exemplo, a do projeto mutirão de reflorestamento executado pela prefeitura do Rio, não nos permitam ter um verde novo nos mais de 20 quilômetros de extensão da vertente norte da Serra de Madureira. Com isso, reduziríamos as enchentes, amenizaríamos à temperatura, resgataríamos fauna e flora originais e de lambuja “roubariamos” da Floresta da Tijuca o título de ser a maior do mundo dentro de cidade. Basta querer.



Vicente Loureiro, arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade

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